quinta-feira, 11 de março de 2010

Shadow Lullabie's - Chapter 04

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"Acordei completamente zonza e sem a menor noção dos fatos. Não sabia onde eu estava, tudo o que eu podia enxergar era um teto completamente branco, coisas distorcidas ao meu redor, tudo desfocado, inclusive os sons que se misturavam de forma absolutamente esquisita, e eu nada entendia. Demorou um pouco até que as imagens e os sons se pusessem normais. Olhei para o lado e avistei Zero e Hizumi."


- Você está bem? – Hizumi perguntou se aproximando da garota.

Linh estava com roupas brancas e seus cabelos amarrados para baixo. A extensão dos fios, mesmo que completamente unidos devido a estarem presos, era imensa, caia despojadamente sobre a cama, fazendo assim com que o preto ofuscante realçasse completamente com o branco dos tecidos. Seus olhos ainda irradiavam uma cor intensa, um castanho bem claro, mas estavam perdidos. Ela demorou um pouco para responder, mas logo olhou para o semblante daquele vocalista preocupado, e disse:

- Onde eu estou?

- No hospital... – respondia Zero se aproximando – Você desmaiou quando... Você não se lembra?

A garota parou para pensar por alguns instantes e logo lhe veio a imagem de Karyu se aproximando, dela tremendo de pavor, e de uma escuridão que a sufocou, mas ao mesmo tempo foi aliviante.

- Karyu-san... Onde ele está?!

- Ele tá com o Tsukasa, relaxa... – disse Hizumi.

- É, eles devem estar enchendo a cara em algum bar.

- Como assim?! Eles não podem ficar expostos desse jeito... Pode ser perigoso! – a assistente se alterava.

- Calma... Linh-san! O Zero só está brincando. Não creio que eles estejam se exibindo ao público. Se estiverem, devem estar com disfarces, Tsukasa não iria se esquecer disso. O Karyu sim, no estado que ele está... Mas o Tsukasa está com ele, então fique tranquila.

- Vamos sair daqui, eu já estou bem. Não podemos perder tempo em um hospital...

- No no no no – Hizumi a impedia fazendo a garota voltar a se deitar – Você quase morreu sabia? Tem idéia do quanto ficamos preocupados?

- É... Seria um grande desperdício se você morresse. Uma perfeição a menos no mundo...

- Hã?

- Huahuahauhau... Cala a boca, Zero, a situação é séria! Não dê ouvidos a ele, Linh-san, por favor.

- Tá... Mas até quando eu vou ter que ficar aqui?

- Até o médico te dar alta – respondeu o baixista.

- E quando é isso?

- Hoje mesmo... – respondeu uma quarta voz entrando na sala, Tsukasa.

- Tsukasa-san...

- Eu falei com o médico. Ele disse que se assustou bastante com o estado dela. Ela perdeu totalmente a consciência e ficou tipo em estado de coma profundo. Mas depois de um tempo ela foi gradativamente voltando ao seu estado normal. E agora ela já está completamente recuperada, como se nada tivesse acontecido. O médico está assustado, é sério. É como dizer que a sua alma deixou o seu corpo por alguns instantes e depois voltou. Mas os médicos não acreditam nessas coisas, sabe como é.

- Então ela já pode ir? – perguntou Hizumi ao baterista.

- Sim.

- Eto... Tsukasa-san... E o... – dizia Linh antes de ser interrompida.

- Karyu está bem. Mas ele acha melhor não vê-la por um tempo. Tem medo do que possa acontecer. E eu o entendo...

- Ah... Claro...

Os músicos saíram e a deixaram sozinha, para que pudesse se arrumar.

A jovem assistente se mostrou um tanto quanto condolente. Em sua mente se passavam coisas como a preocupação a respeito de como seria a partir daquele momento. Uma assistente definitivamente não poderia reagir dessa forma, não teria como ela continuar com isso, por mais que estivesse realizando um sonho de qualquer fã.

Ela amava profundamente D'espairsRay, e nunca sequer cogitou que um dia viria a conhecê-los e inclusive conviver com todos eles tão de perto. Poder falar com eles, poder vê-los acordando, poder comer na mesma mesa que seus ídolos, poder acompanhá-los por onde quer que eles fossem.

Tudo aquilo era um sonho e ela temia acordar. Mas tal sonho estava se esvaindo em pedaços por um motivo que nem mesmo ela sabia explicar. Era bom demais pra ser verdade, era nisso que ela pensava.

Seus olhos marejaram, enquanto ela se lembrava da sorte lhe pegando de surpresa. Foi uma grande jogada do destino ela ter encontrado a diretora de produções da banda e inusitadamente ser convidada a trabalhar para eles.

A Srta. Swans encontrou Linh quando a garota estava sendo totalmente repreendida pelo seu patrão, na World States Food, uma famosa lanchonete onde ela trabalhava antes de virar assistente.

Linh usava um uniforme muito fofo e tinha os cabelos presos em marias-chiquinhas, mas com algumas tranças aleatórias. E laços azul-escuro com branco – cor do uniforme - que enfeitavam o penteado, um de cada lado. Swans estava apenas comendo tranquilamente, era comum ela ter que comer em lanchonetes, pois nem sempre lhe sobrava muito tempo para fazer as refeições. Ela apenas escutava a confusão, mas não sabia ao certo o que estava acontecendo.

- Vai me dizer o quê dessa vez?!! – dizia o patrão enraivecido – Eu já estou cansado!! Não é a primeira, nem a segunda, nem a terceira e nem a quarta vez que eu escuto reclamações das clientes sobre você!!

Ele gritava e todos os clientes no local escutavam. Que tipo de chefe era esse que nem sequer tinha o cuidado de discutir sobre essas coisas em outro lugar, longe dos clientes? A garota mantinha a cabeça baixa e o homem continuava a gritar:

- Todas elas me disseram que você ficou se insinuando para o namorado delas!!!

- Isso é mentira!! – a garota se manifestou – Eu nunca fiz absolutamente nada! Eu sempre trabalhei com todo profissionalismo possível, inclusive me dispondo a aturar o assédio desses clientes tarados que essas vadias chamam de "namorados", quando nem a conta eles pagam!!

O alvoroço no salão foi total, ouviram-se gritos, vaios e aplausos também, apesar de poucos. A Srta. Swans apenas continuou assistindo a tudo atentamente.

- Você tem idéia do que você está fazendo garota?!! – gritava o chefe mais uma vez.

- Sim, eu tenho!!! - ela respondia praticamente gritando - Até os seus funcionários não prestam!! Nem o senhor presta e eu já estou de saco cheio disso tudo!! Eu posso aturar muita coisa nessa vida, mas não admito ser humilhada injustamente!

- Você está demitida!!!

- Ah, claro!! Com todo prazer!! – Linh diza irritada - Eu é que faço total questão de dar o fora daqui! Não será "a primeira, nem a segunda, nem a terceira e nem a quarta vez" que eu tenho esse tipo de problema!! Então danem-se vocês também!

Ela terminou, por fim se retirando do local e deixando uma platéia totalmente bagunçada, com gritos, assovios, cochichos... E o chefe ficou ainda mais nervoso.

Os funcionários costumavam sair por uma porta que tinha ao fundo da lanchonete, em uma espécie de beco que dividia o quarteirão. A garota estava com um delicado vestido tomara-que-caia branco, de um tecido bem leve, com algumas estampas florais, na maioria vermelhas. O comprimento do vestido chegava a um palmo e meio acima do joelho. Seus cabelos estavam presos em um coque. Levava também uma bolsa vermelho-opaco de tamanho médio; e aos pés uma sandália bege, de salto baixo, cuja fivela a garota ajustava antes de finalmente começar a andar.

Porém, assim que saiu daquele beco, deu de cara com a Srta. Swans, que estava a sua espera.

Ambas estavam agora sentadas em um banco de uma praça. A mulher mexia em um saco e depois oferecia algo à garota, que ainda permanecia em silêncio.

- São batatas fritas – dizia Swans – Você não deve ter comido nada né? Não digo que seja muito saudável, mas é gostoso...

A garota sorriu e aceitou.

- Obrigada.

- Então... – continuava Swans – Ser muito bonita nem sempre é uma vantagem?

- Bom, pode ser de início, mas depois te prejudica muito.

- Quantos empregos você já perdeu?

- Ah, nem parei pra contar... – ela riu enquanto comia outra batata.

- Quer tentar de novo?

- Tentar o quê? Voltar naquela lanchonete?! Huahauhauah!!

- Não! Trabalhe para nós. Eu sou diretora de produção... – ela dizia mostrando o seu cartão - De uma agencia de bandas e músicos. Eu não sou bem a diretora, eu sou co-diretora, mas posso contratar os funcionários. Tem uma banda que precisa urgentemente de um assistente. Você se mostrou ter uma personalidade bastante forte, isso combina com a banda, é disso que eles precisam.

- Como se chama a banda?

- D'espairsRay. – a garota quase engasgou com as batatas – Você conhece?

- Si... Sim, claro! – tentava Linh dizer algo, com risos de nervosismo - É... É uma banda bem famosa, não é?

- Ah, sim! Eles estão se destacando muito ultimamente. Esse ano, foram ao exterior pela primeira vez, onde deram shows na França e na Alemanha! Eles querem alcançar o mundo todo, são muito ambiciosos...

- É... Eu imagino...

- Como você se chama?

- Akayame Linh.

A mulher se levantou antes de continuar:

- Srta. Akayame, eu me chamo Clarissa Swans! Como minha agenda é muito apertada não poderei me prolongar aqui, inclusive já estou atrasada, mas me encontre na próxima segunda na estação principal, às 18h. Pode ser?

- Ha... Hai!

- Considere-se contratada. Você começa segunda-feira e eu te encontro na estação! Não esquece tá?

- O... Okey...

- Bom, pode ficar com as batas e vê se come algo decente depois!! Ja ne!! – a mulher disse sorrindo e indo embora, deixando uma garota completamente muda para trás.

Impossível. Essa era a palavra que mais se passava pela sua cabeça. Não tinha como aquilo estar realmente acontecendo. Impossível, impossível, absolutamente impossível...

E agora que ela já sabia que aquilo não fora uma pegadinha, Linh estava vendo aquela inacreditável realidade torna-se cada vez mais distante. Simplesmente porque se aproximar do guitarrista da banda era algo que a deixava em um estado deplorável

No próximo encontro com a Srta. Swans, a garota pretendia explicar tudo o que ocorria, e sabia que a resposta da diretora a esse problema não seria a das melhores. Sabia que isso a levaria a um fim deste sonho. Ela seria obrigada a deixá-los. Ela não queria, mas mais uma vez, agora por motivos absolutamente diferentes dos anteriores, ela perderia um emprego. Se é que dá pra chamar todo esse sonho de emprego, porque mesmo que fosse de graça, ela o faria.









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