quinta-feira, 11 de março de 2010

Shadow Lullabie's - Chapter 03

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O silêncio perdurou por alguns instantes enquanto Linh pensava com inquietação. Olhou para Karyu uma segunda vez, e viu que ele sorria. Talvez se seu sorriso não fosse tão bonito e ansioso, ela pudesse começar a correr de tanto medo.

- É... Podemos tentar né? – ela disse com receio enquanto se levantava lentamente.

Karyu, assim como todos, ficou surpreso pela atitude corajosa da garota, mas era inevitável notar que ela estava extremamente nervosa. O guitarrista começou a se aproximar com calma e ela parecia hesitante. Inclusive já lhe desviava o olhar, como se rezasse para que tudo aquilo sem demoras cessasse. E ele nem sequer a tinha tocado, ainda.

Um simples abraço para qualquer pessoa, mas para ela seria como encostar-se a seu maior medo, entregar-se a ele de bandeja... Abraçar um inimigo que segurava uma faca, ou uma cobra ansiando em dar um bote com as presas gotejando de veneno.

Todo seu corpo estremeceu assim que Karyu chegou a menos de um passo de distancia. Lentamente, ele se aproximou um pouco mais... E mais um pouco... Até por fim tocá-la com hesitação. Claro que ele não a abraçou de uma vez, fez isso com calma, sendo capaz de notar detalhadamente o quão grande era o pavor daquela menina. Era inclusive difícil de afirmar se abraçá-la devagar era pior ou melhor do que abraçá-la o mais rápido possível.


Aquilo era impressionante. Como podia alguém sentir tanto medo assim de uma pessoa? Que explicação convincente poderia existir para isso? Eu nunca a tinha visto nenhuma vez antes em toda a minha vida. Que mal eu poderia ter feito a ela?! Eu não entendia, mas aquilo estava me sufocando. A dúvida, a distância... Quando eu a abracei, eu comecei a fazer isso lentamente, mas um desespero repentino me invadiu e eu a envolvi em meus braços o mais rápido e forte possível. Não sei explicar porque fiz isso, mas quando notei o quão apavorada ela estava, o quanto cada parte de seu corpo tremia, o quanto ela desviava o olhar, o quanto ela parecia que iria chorar e gritar a qualquer momento... Mas não, ela se esforçou, e eu simplesmente não aguentei ver aquilo. Não a abracei por nada, fiz isso porque queria ampará-la, porque queria que se acalmasse... Eu sou louco, não sou? Se eu queria que ela ficasse tranquila, era melhor que eu apenas me afastasse. Porém, ao invés disso, eu me aproximei mais ainda. Foi um impulsivo, instintivo e involuntário... Erro.


Linh pôde sentir-se sendo abraçada fortemente por Karyu. A princípio se assustou por dois segundos, por três ficou estática, e depois disso... Desmaiou.

Karyu a segurou imediatamente, afinal ela já estava em seus braços. Porém, ele, mais do que qualquer um que assistira àquela cena, ficou debilitadamente assustado. E é claro, também foi invadido por aquele inevitável sentimento de culpa.

- My God!! – surpreendia-se Zero.

Karyu apoiava-se ao chão com Linh estirada em seus braços. Ele estava desesperadamente procurando o que fazer. Todos se aproximaram.

- Coloque-a no sofá! Temos que chamar ajuda! – disse o baterista enquanto Karyu levantava a garota e a colocava cuidadosamente no sofá daquela sala.

Não demorou muito para que a ajuda chegasse, por sorte parecia ter um médico entre a equipe de produção no local. O médico se aproximou rapidamente enquanto todos se afastavam. Desde então, fez-se o silêncio.

O médico a examinava fazendo por horas e outras uma expressão de que algo grave ocorria.

- O... O que foi doutor? – perguntou Hizumi preocupado.

- É muito estranho... Essa garota quase me tem uma parada cardíaca imediata. Seus batimentos estão muito fracos, um pouco mais fracos e eu poderia dizer que ela está morta.

Todos ficaram absolutamente chocados com a afirmação do doutor. E o silêncio e o choque perduraram por alguns segundos até serem interrompidos por alguém que adentrava subitamente naquela sala.

- É... Me desculpem. – dizia um rapaz jovem com um pouco de pressa – A banda terá que entrar agora para a sessão de autógrafos. Os fãs já estão esperando há algum tempo.

- Não tem como esperar mais um pouco? – dizia Zero – A nossa assistente passou mal, não podemos ir.

- Me desculpem, mas temos um horário muito apertado. Eu sinto muito por ela, mas vocês vão ter que vir...

Não havia outro meio. Os quatro músicos não puderam deixar de lado o profissionalismo, e foram com o assistente até a sala onde fariam aquela inconveniente sessão de autógrafos. O médico que cuidara de Linh disse-lhes para irem tranquilos que ele cuidaria da garota até que retornassem. A nova assistente permanecia completamente desacordada, e a cara do médico não era nada amigável, algo que não passou despercebido por aqueles quatro jovens que muito hesitantes saiam da sala.

O local onde ocorria a sessão de autógrafos era bem iluminado e arejado. Os quatro ficavam sentados um ao lado do outro atrás de uma grande mesa retangular. Cada um usaria a sua própria caneta para assinar. Na área também se ouvia "Kogoeru yoru ni saita Hana", em um volume ambiente.

Os fãs faziam uma longa fila antes da porta de entrada. Eles levavam pôsteres, presentes, tinham visuais marcantes, ou não, afinal muitos preferiam ser mais discretos. As garotas eram muito bonitas, muitas delas com trajes de gothic-lolita, e outras com roupas mais "darks". Muitos dos garotos usavam camisetas da banda. O agito era total, algo bem compreensivo.

Porém era inevitável reparar que aqueles quatro músicos tão admirados por todos aqueles fãs, levavam em seus rostos expressões de desânimo e preocupação. Entravam um por um na sala, ficando no máximo quatro fãs dentro da mesma. A ordem de autógrafos era: Tsukasa, Zero, Karyu e Hizumi. Assim que um fã terminasse de pegar a assinatura do vocalista, ele deveria sair da sala e dar espaço a mais um fã que começaria por Tsukasa. Esse era o ciclo, até aquela imensa fila acabar.

Nenhum deles mudara a sua expressão, e suas mentes estavam distantes, preocupadas... Afinal, enquanto estavam dando autógrafos, algo grave poderia estar acontecendo a sua mais nova assistente direta.

Era assim que cada um deles estava se sentindo, especialmente Karyu, que inconformava-se com o fato de saber que com um simples abraço ele quase matara uma garota. Para ele, que olhava fã por fã, principalmente as meninas, ele tinha certeza absoluta que se resolvesse abraçar qualquer uma delas, o resultado não seria aquele. Claro, uma fã poderia desmaiar de emoção, mas seria completamente diferente do que acontecera há poucos instantes.

As expressões em seus rostos, baixas, frias, preocupadas e distantes, estavam por gerar diversos comentários entre os fãs que, não sendo bobos, perceberam. Até mesmo porque todos eles quase não sorriam, desviavam o olhar, não ouviam as declarações de seus fãs, e demoravam a assinar. Tsukasa era o que parecia mais calmo, o mais frio. Zero estava inquieto e, muitas vezes, demorava pra notar que outro fã aguardava sua assinatura. Tal fã teria que lhe chamar a atenção mais de duas vezes até que o baixista voltasse a si. Hizumi já tinha errado a assinatura duas vezes, "gomenasai", ele dizia sem jeito e tentando sorrir. Karyu, já tinha errado três vezes e estava tão distraído quanto Zero. Provavelmente o guitarrista, e líder da banda, era o que estava no pior estado

Deram um intervalo de três minutos. Não demorou muito para que alguém chegasse ao ouvido deles e murmurasse algo como:

- O que está havendo com vocês? – dizia o supervisor discretamente no ouvido de Karyu – Os fãs estão pensando que vocês estão achando tudo isso um porre. Eles estão ofendidos...

Karyu jogou a caneta na mesa sem muita agressividade, respirou fundo, e o olhou com impaciência.

- Os fãs sempre nos vêm aqui com belos sorrisos estampados e devem pensar "eles estão ótimos"... Mas eles nunca pararam pra pensar que por trás de alguns falsos sorrisos a gente pode estar passando por sérios problemas e preocupações. Eu procuro evitar fingir, mas já tive que fazer isso muitas vezes. – respondia Karyu evitando aumentar o tom de voz – Porém eu quase matei a nossa assistente de uma forma ridícula e nesse momento nem sei se ela está bem. Me desculpe, mas eu não vou consegui disfarçar dessa vez. E não sou só eu, eles também...

O supervisor olhou para os outros três integrantes e realmente eles não estavam com cara de "que ótimo dia temos hoje".

- Não vou poder suspender isso – dizia ele – Mas ao menos fiquem mais atentos, não errem as assinaturas, não deixem os fãs no vácuo okey?

- Está certo, vou falar pra eles. – assentiu o guitarrista.

Dessa forma, a sessão de autógrafos teve continuidade. Os quatro músicos não mudaram muito suas expressões, mas ao menos pararam de se distrair e de errar assinaturas. Hizumi e Karyu até conseguiram apresentar um pouco de simpatia. Zero não dava a menor importância em exibir sua cara de mau humor. E Tsukasa estava neutro como sempre, com sorrisos bem discretos e profissionais.

Depois de uma hora e meia, completando duas horas de autógrafos, o último fã deixou o local, a porta foi fechada, e a banda finalmente estava livre. Eles nem esperaram muito, sairam o mais depressa possível daquele lugar.

- Ela AINDA não acordou?!! – perguntava Hizumi inconformado ao médico que havia ficado com Linh.

- Me desculpem, mas eu não pude avisá-los. A garota teve que ser levada com urgência ao hospital mais próximo. Não importava o que eu fizesse, ela não acordava. E seu rendimento cardíaco estava ficando cada vez mais falho. Isso me preocupou muito... Então eu a encaminhei para um pronto-socorro.

A única coisa que fez algum ruído naquela sala eram as risadas distantes, vindas provavelmente de algum outro lugar, onde pessoas despreocupadas se reuniam. Todos ficaram absortos com o que ouviram. Não só pela preocupação com o estado de uma bela garota, mas sim pela dimensão absurda daquela situação. Por causa de um abraço? Tem como alguém ficar a beira da morte por causa de um simples abraço? É claro que aquilo provocou um abalo geral. E suas expressões eram misturas de inconformismo, preocupação, nervosismo, culpa... Esta última atormentava principalmente o guitarrista que, num acesso de descontrole, chutou a porta daquela pequena sala de espera com bastante brutalidade, o que acabou por "despertar" os outros, que ainda se mantinham em choque.

- Isso é ridículo... – dizia Karyu alterado e inconformado – RIDÍCULO!!!

Por fim, o guitarrista saiu às pressas da sala, sabe-se lá para qual rumo. Tsukasa foi atrás dele. Restaram apenas Zero e Hizumi que, ainda na presença daquele médico, mantiveram-se como incrédulos silenciosos. Silêncio este que persistia. "Tensão". Era isso, essa palavra...






Leitor que incentiva deve deixar um review hein? xD

Bjussssssssssssss....


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