quinta-feira, 11 de março de 2010

Shadow Lullabie's - Chapter 10

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A garota foi quem tomou a iniciativa, e rapidamente se dirigiu ao lugar indicado, sentando-se bem de frente para Giyo. O guitarrista demorava a fazer o mesmo, até ser encorajado por sua assistente.

- Está tudo bem! – disse ela sorrindo.

- Tem certeza?

- Sim!

Dito isso, Karyu se aproximou lentamente da mesa, e com muito cuidado se sentou ao lado de Linh, porém ainda mantendo certa distância. Giyo o olhou de forma reprovadora.

- Muito longe... Aproxime-se mais da garota.

- Mas... Isso pode ser...

Não era a toa que o guitarrista se preocupava, afinal era fácil reparar que a garota ao seu lado ficava cada vez mais tensa.

Linh sentia sua respiração pesar, como se algo a sufocasse. Além disso, seu coração palpitava como se estivesse a ponto de explodir, sentia dor e medo, enquanto um calafrio repentino arrepiava-lhe de forma assustadora. Suas mãos foram as primeiras partes de seu corpo a ficarem trêmulas.

- Vejam só... – dizia o homem reparando na garota – Você realmente não está nada bem...

A assistente sequer foi capaz de responder. Era estranho, mas naquele momento em especial, todos os seus sentidos pareciam estar mais intensos. Se antes ela já sentia medo daquele músico ao seu lado, agora esse medo parecia umas dez vezes maior. Como isso poderia ser explicado?

- Eu vou sair de perto dela! – Karyu se manifestava, levantando-se no intuito de se afastar.

E mais uma vez, ela o deteve.

- Volte... – a garota disse com dificuldade.

Não era possível dizer se o guitarrista estava surpreso ou indignado.

- Você é uma masoquista por um acaso?! Não vê que se eu...

- Isso é necessário. – ela o interrompeu – Eu... Acredito que seja.

- Ela não está errada, meu jovem. Preciso que ambos estejam próximos. E devo dizer que o medo dela provavelmente irá piorar.

- Isso não pode acontecer!! Da última vez ela quase morreu!

- Oh, é mesmo? Então acredito que dessa vez ela tenha morrer de fato.

- O quê?! – Karyu se indignava – Quem diabos é você?! Onde Zero estava com a cabeça quando pediu sua ajuda? Eu vou agora mesmo falar com ele...

O músico se dirigia até a porta, porém, antes de abri-la, foi interrompido pela única voz que naquele momento poderia impedi-lo de fazer qualquer coisa que fosse.

- Karyu-san...

Já tinha uma das mãos na maçaneta prestes a abrir aquela porta, mas não o fez. Abaixou a cabeça e suspirou pesadamente, enquanto um sorriso vitorioso surgia na face de Giyo. Com passos lentos, mas uma boa postura, Karyu voltou até eles. Encarou o estranho homem com um olhos firmes, que logo preocuparam-se assim que pousaram em Linh.

Dessa vez, incrivelmente, a garota foi capaz de encará-lo sem desviar o olhar.

- Só não quero que nada aconteça com você... – ele disse, e depois pôde admirar o sorriso que ela lhe dera como resposta. Permaneceram então naquele vagaroso instante, em silêncio e olhos fixos.

- Muito interessante... – Giyo interrompeu completamente. Enquanto se perdiam nos olhos um do outro, talvez ambos estivessem se esquecido da presença daquele homem que até então os observara em silêncio e atenção.

Após uma risada divertida, por notar que "despertou" aquelas duas pobres almas, Giyo continuou:

- Pessoas sensitivas como eu... Enxergam coisas que as pessoas normais não enxergam nem com esforço. Juro que não pedi por isso... Talvez alguém lá em cima tenha me escolhido para ajudá-los, e agora eu estou aqui para cumprir essa missão.

Já era de se esperar que Linh e Karyu não compreendessem o que aquele homem queria dizer, o que fez com que este fosse obrigado a prosseguir:

- Sente-se rapaz... Não precisa ser tão perto dessa bela jovem. Apenas quero que prestem atenção no que vou lhes dizer.

Atendendo gentilmente ao pedido de Giyo, o guitarrista se sentou ao lado de sua assistente, porém não tão próximo quanto antes.

- Assim está bom... – o homem continuava – Linh-chan... Foi apenas impressão minha, ou a senhorita foi tranquilizada agora a pouco pelo seu algoz?

A garota apenas sorriu antes de responder:

- Estranho, não é? Não tive medo dessa vez...

- Hum... Então como podemos explicar isso? Você simplesmente tem pavor desse jovem aqui presente, mas, de repente, ele foi capaz de lhe passar segurança através de uma simples frase e um mero olhar. Uma hora, medo... Outrora... Confiança. Imagino que deva estar se sentindo completamente confusa, estou certo?

- Hai! ^^

- E como se sente agora?

- Normal.

- E quanto a você... Karyu-kun? Não sabemos muito sobre como se sente em relação a isso tudo. Agora acredito que também esteja "normal"... Mas o que poderia lhe deixar aflito, ou com tanto medo quanto Linh-chan?

- Ah... Isso... É difícil dizer, porque...

- Você não sabe a intensidade do medo dela.

- Isso mesmo.

Posto que agora Giyo já percebesse muitas coisas apenas ao vê-los, ele já não poderia esconder tudo. Porém sabia que contar absolutamente tudo o que via e suspeitava, também não era uma boa idéia. Há coisas que antes precisam ser compreendidas, para enfim poderem ser ditas e afirmadas. Giyo tinha a capacidade de ler as almas, decifrar espíritos... Um dom que ele considerava um presente divino. Naquele momento, o simples fato de estar ali, perante eles, com certeza não era à toa.

- O que vejo aqui é surpreendente. Algo possível e natural, mas mesmo assim... Muito raro. Antes de mais nada, quero dizer que ambos, a partir de agora, devem fazer o possível para buscar... Purificação. Meus olhos não se enganam... Os dois já andaram colecionando máculas por ai. Isso poderá se tornar um grande fardo...

- Quer dizer sobre nossos pecados? – perguntava Karyu lançando um sorriso discreto, afinal o assunto era sério – Eu ainda tenho salvação? Ò_o

Giyo lançou uma breve risada antes de responder:

- Vejamos, se pensarmos no agora... Posso lhe dar certeza que tens mais salvação do que ela. – terminou ao indicar Linh com o olhar.

Karyu se pôs perplexo. Aquela garota jamais pareceria ser do tipo que já cometeu muitos erros e pecados... Isso estava fora de cogitação. Linh, por outro lado, baixou a cabeça e o olhar de forma a lamentar o que ouvira, e dessa forma também o confirmava. Era verdade, e ela sabia.

- Então o senhor de fato enxerga coisas que ninguém enxerga... – dizia ela mantendo a expressão vazia.

- Ora, não fique tão condolente... Assim partirá o meu coração. Esse velho não pode morrer agora. – Giyo disse fazendo um teatrinho e a assistente voltou a sorrir – Minha jovem de bom espírito... As máculas que possui não foram buscadas por você. Posso ver isso apenas ao mergulhar na profundeza de seus olhos... Sua alma é pura, por isso esses olhos são tão encantadores. Apesar disso, você já foi perturbada por diversas sombras... O jeito que eu falo parece muito metafórico? Vocês... Acreditam em outras vidas?

- Se isso existe... Talvez possa explicar muita coisa. – disse Linh.

- Bem observado... u.ú – disse Giyo.

- Eu acredito... Mas sem aprofundar demais as coisas. – Karyu afirmou.

- Bom... É relativo de cada pessoa acreditar ou não, e tenham certeza: isso pouco importa. Afinal os fatos não podem ser mudados por conta de tal. O que posso dizer a vocês... É que existe um forte laço espiritual em torno de ambos. Vocês dois. – Giyo falou, e olhos curiosos surgiram naquelas duas faces frente a ele - Nada nesse mundo acontece sem ter um porquê. Por mais que a princípio as coisas sejam incompreensíveis, logo, ou tardar, é possível entender o verdadeiro motivo de elas terem ocorrido de tais formas. Tudo, absolutamente tudo nesse mundo, acontece de acordo com um fluxo. Alguns chamam esse fluxo de "destino", outros preferem encará-lo das mais diversas formas. Sorte, azar... Também fazem parte de tal fluxo. Inclusive o encontro de duas pessoas, o medo de uma pela outra... Mas não posso dizer mais do que isso...

- O que quer dizer? Um laço espiritual poderia ser... – Linh tentava entender.

- Não se precipitem quanto ao que vão achar sobre isso, mas também não se limitem a tentar compreender. Vocês não devem se preocupar, nem mesmo temer a nada. Como eu já disse, nada é sem motivo. Aquilo que tiver que acontecer, independente do que façam durante o longo caminho de suas vidas, certamente acontecerá. Não é necessário que façam esforços para resolverem questões da alma... É preciso se esforçar para conseguir dinheiro, manter a boa forma, arranjar uma namorada... Eu que o diga... u.ú Não me dou bem em nenhuma dessas coisas, mas fazer o quê? Se eu puder ajudar pobres seres da Terra como vocês, já posso me sentir mais... "Útil".

Linh e Karyu riram, pareciam mais tranquilos.

- Você quer dizer então... – dizia o guitarrista – Que não devemos nos preocupar? As coisas vão... Naturalmente se resolver? No caso, esse medo inexplicável que ela tem de mim?

- Exatamente. Mas... Eu queria que fizessem algo agora, apenas para matar a curiosidade desse velho. Eu irei instruí-los, mas devo avisar que não será muito fácil, principalmente para Linh-chan. Estará tudo bem?

- Eto... Por mim tudo bem. – disse a assistente.

- Se não for arriscado, eu posso concordar... O que exatamente quer que a gente faça? – e Karyu.
Apesar de muito hesitar, o músico acabou concordando em fazer o que Giyo instruiu. O empecilho é que se tratava de algo que deixaria a assistente cada vez mais assustada, e na última vez em que houve algum tipo de contato entre eles, a garota teve um súbito desmaio que por pouco não lhe tomara a vida. Linh concordou preocupada, mas Karyu teve de ser convencido. Além disso, o guitarrista deixou bem claro que pararia a qualquer momento, se achasse necessário. Giyo por sua vez, garantiu que nada daria errado se apenas confiassem nele, e principalmente, em si mesmos.

Linh e Karyu sentaram-se um de frente para o outro, com as pernas cruzadas em pose de meditação. Deveriam ambos dar as duas mãos um ao outro, segurá-las firmemente, e depois fechar os olhos.

Assim fizeram. Ela com mãos mais do que trêmulas, e ele com receio se deveria continuar com aquilo. Através do toque das mãos de Linh, o músico podia perceber facilmente o quão grande era o pavor que a garota sentia. Instruído a segurar cada vez mais firme naquelas mãos, com o intuito de lhe passar alguma segurança previamente impossível, Karyu continuou.

As mãos dela estavam frias e trêmulas. E as dele, quentes e firmes, apesar de vez ou outra quererem se afastar para bem longe.

O medo dela o deixava aflito. Ela o temia, e ele temia que ela o temesse a ponto de não suportar. Mais do que isso, Karyu temia que jamais fosse possível arranjar uma cura para este mal. Isso ia contra todos os seus princípios de otimismo, e ele sabia, mas talvez fosse justamente esse resto de otimismo que o permitia seguir em frente. A sensação era a pior de todas: aquela de estar torturando uma pessoa, sendo que jamais pensara uma única vez sequer em fazê-lo. Mas ao mesmo tempo em que queria se afastar, também queria incessantemente continuar ali, prendendo firmemente aquelas mãos. Achava-se um tremendo sádico por isso, mas era algo que não podia controlar.

Linh por sua vez... Se ele era um sádico, ela deveria ser de fato uma masoquista. Sabia melhor do que ninguém que aquilo a torturava. O medo que sentia sequer poderia ser chamado de "medo", simplesmente pelo fato de muitos outros sentimentos confusos e subjetivos o acompanharem. Assim como Karyu, ela queria e não queria, ao mesmo tempo, se livrar daquelas mãos que tão fortemente seguravam as suas. O que fazer? Continuar.

A próxima instrução foi para que Linh pensasse em algum fato que lhe deixou apavorada. Podia ser um trauma de infância, ou a pior de todas as experiências que já teve até então, por mais difícil e doloroso que fosse recordar. Karyu por sua vez, teria que se lembrar do contrário, a melhor de suas recordações, aquela que sempre fora capaz de lhe transmitir paz e conforto. Ambos opostos, até nas memórias que resgatavam.

Deviam ficar assim por um instante até a segunda ordem de Giyo, que os observava atentamente. Surpreso, aquele homem não imaginava que a garota conseguiria resistir por tanto tempo. Era notável o quanto sofria. Dava para ver a dificuldade que tinha para respirar, o quão trêmulo todo o seu corpo estava, o quanto ofegava, ou o quanto o suor escorria-lhe friamente pela face. Mas ela não podia desmaiar... Não naquele momento, onde tudo daria meia volta, onde o eixo iria aos poucos de inverter... E ela sentiria isso. Ou melhor, já começava a sentir.

Sim... O medo já estava diminuindo, adaptando-se talvez? Não, ele estava dando lugar a outro tipo de emoção. Linh sentia a sua face esfriar, revelando que o suor não mais lhe escorria. O corpo já não tremia, e as mãos também paravam de tremer pouco a pouco. A respiração tornava-se mais fácil, não mais ofegante... Assim como as batidas em seu coração, que pulsavam em um compasso absurdamente rápido, ficavam gradativamente mais tranquilas.

Aquele sentimento de pavor estava desaparecendo. Mais do que isso... Agora Linh se sentia como salva por um anjo. O sentimento de cair em um abismo, mas ter suas mãos seguradas por alguém no último instante. E uma paz e um alívio notórios lhe invadiram intensamente. Calma, segurança, confiança, proteção... Foram essas as emoções que tomaram o lugar de todo aquele medo perturbador.

Um sorriso lhe veio à face, e Karyu também sorriu, afinal pôde facilmente perceber que o medo dela desaparecia pouco a pouco, até finalmente extinguir-se por completo. A conexão que tiveram possibilitou que um lesse os sentidos do outro, não só os sentidos, eram capazes de ler a alma também.

Soltaram as mãos lentamente, ao mesmo passo em que abriam os olhos, os dela lacrimejavam automaticamente, e os dele apenas ameaçavam fazer o mesmo.

Nenhuma palavra precisou ser dita, apenas olhares e sorrisos bastavam. Até um resmungo ecoar naquele quarto. Era Giyo, dramatizando estar aos prantos de tão comovido.

- Isso foi... INCRÍVEL!!! – dizia ele ao retirar um lenço do bolso para assuar o nariz – Bom, vocês sabem muito melhor do que eu... Sabem também o que foi isso?

O músico e sua assistente apenas o encararam sem resposta, então o homem explicou:

- Acredito que a partir de agora... A mocinha não mais terá medo desse jovem feio.

- "Jovem feio"? – Karyu retrucava.

- Sim, sim... Linh-chan, quando se cansar de ser assistente dessa banda de jovens feios, eu estarei te esperando!! I'll be waiting for you, my lady!! I'll be waiting!!

- Hehehe... Tudo bem... ^^

- Não concorde com ele... ¬¬

- Eto...

*risos descontraídos*


Agora, segundo Giyo, Linh não temeria Karyu. A menos que houvesse um motivo explícito. Sobre como isso foi possível o homem alegou estar com preguiça de explicar, então que todos pensassem por si mesmos até encontrarem uma resposta. Eles não fizeram tudo sozinho, receberam uma "ajuda espiritual" de Giyo. Mas se tudo foi mesmo superado, apenas aqueles dois poderão afirmar. E tomara que possam fazê-lo. Assim como todos desejavam.

Apesar de tudo, Giyo decidiu por omitir o motivo em detalhes daquele grande temor que a garota sentia pelo guitarrista. Achou que seria pesado demais, e que não eram espiritualmente capazes de lidarem com isso. Desde o princípio, ele enxergara uma espécie de sombra, uma energia sufocante... Ao menos essas foram "neutralizadas" por ele.

Talvez um dia, a verdade precise ser revelada, mas se for possível, é bem preferível que as coisas continuem como finalmente começaram a estar. Se tudo estiver bem, nenhum mal terá que surgir, e nem sequer ser citado.



Traçamos sonhos em vermelho corrompidos
Nas memórias inexistentes de uma vida percorrida
Mas a estrela que feneceu perante meus olhos frios...
Não é uma simples lembrança
Não pode ser esquecida.

(M. Alice)










Bom, eu pretendo colocar trechos de músicas tb... (não necessariamente de D'espairsRay, mas claro q mtos serão deles xD)

Mas eu tb crio letras e versos, e tal... Então quando eu não souber oq colocar (como agora), coloco alguma obra minha mesmo... Hehehe...

Obrigada a todos, e mais uma vez, malz a demora u.ú
Bjussssssss...
;**




PRÓXIMO CAPÍTULO >>>


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