sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Chapter 01 - O Anjo que Me Traz a Esperança (parte 1)



"Não me sufoque! Não arranque minhas asas...
Deixe- me voar e...
Tire-me desta escuridão.
Minhas lágrimas já se esgotaram e agora o próprio sangue escorre de meus olhos.
Minha alma amaldiçoada está jogada nesse mundo sem destino.
Viver ou morrer já não importa mais.
Mas quero voar, nem que seja pela última vez.
Devolva-me as minhas asas...
Por tudo que é mais sagrado."



Inglaterra, 18 de Julho de 2008

Lyah tocava piano excelentemente bem. Naquela noite, era uma melodia triste, capaz de tocar o coração de todos que a escutassem. Seu espírito chorava novamente.
Alguém bateu na porta interrompendo: toc, toc, toc! Lyah parou subitamente de tocar:
- Pode entrar!
- Olá Lyah, eu te interrompi?
- Imagine Allan. Eu já estava mesmo pensando em parar.
- Abel está preocupado com você. Faz cinco horas que está trancada na sala de música.
- É mesmo... Eu vou me desculpar com ele!
- Não será necessário! Por que não vem dar um passeio? Ainda são 7h da noite e é sexta- feira. Existem muitas coisas a se fazer aqui em Londres numa sexta-feira à noite, e você precisa se animar, Lyah!
- É... Eu acho que você tem razão. Mas...
- Ficar trancada neste palácio como uma princesa não tem graça né?
Lyah sorriu por um breve momento, como se estivesse saindo de uma depressão.
- Sendo assim minha princesa, - disse Allan beijando levemente a mão de Lyah - eu sou o príncipe que vem resgatá-la. Diga-me princesa, onde está o dragão?
- Ei Allan, eu já peguei as chaves do carro - dizia Logan entrando na sala.
- Já que você perguntou onde estava o dragão, ele se chama Fyer Logan von Eizendrith Lefrain.
- Hahahah! - riu Allan
- Ei!! Ninguém diz o meu nome inteiro pra fazer piada!!
- Acalme-se Logan, a Lyah só fez uma brincadeira. Apenas uma brincadeira.
- Não me lembro de ter permitido brincadeiras! Mas mudando de assunto, que horas a gente vai?
- Logo, logo... Eu só estava chamando a Lyah.
- ELE VAI?!!
- ELA VAI?!!
- É... Sim. Para os dois.
- Sem essa, se ela for eu não vou!
- Eu digo mesmo! De qualquer forma eu nem poderia mesmo...
- Nossa... Como vocês são teimosos! Deviam se entender melhor, afinal já faz quatro anos que vivem nessa casa... Quer dizer, nesse castelo de 363... 364, não... 363 cômodos né?
- Eu é que vou saber?! - disse Logan.
- São 367! Eu, que moro aqui a bem menos tempo que você, sei disso. Que vergonha!
- Você sabe por que é uma interesseira, sua desgraçada!
- Eu sei porque eu presto atenção, ao contrário de você que é um asno, desatento, grosso e severamente infantil!!
- Cala a boca sua anormal!!
- Vem fazer calar então!!
- Com prazer!
Logan foi avançar e Lyah também, mas Allan interviu e segurou os dois:
- Parem já com isso! Vocês estão indo longe demais!
- SAI DA FRENTE ALLAN!! - disseram ambos ao mesmo tempo.
- Abaixem o tom. Está dando pra ouvir os gritos lá da sala. - disse uma quarta voz, masculina e bem centrada.
- A... Abel! – surpreendeu-se Lyah.
- O que está havendo aqui?
- O de sempre: estão brigando. Eu chamei ambos para sair e isso virou motivo pra briga.
- Foi ela que começou! - disse Logan.
- Mentira! Você que é o esquentado e vive implicando comigo sem nenhum motivo!
- "Nenhum motivo"? Quem você pensa que é e que moral você tem pra dizer isso? Ponha-se no seu lugar! Você tinha é que ter vergonha na cara e entender, porque afinal, quem é que vive se escondendo por aqui hein?!
Lyah foi aos poucos se constrangendo conforme Logan continuava:
- A verdade dói não é? Se você não tivesse sido...
Mal Logan terminou de falar, e Abel não se conteu: calou-o com um murro que imediatamente o impulsionou para o chão.
- Você é deprimente Logan! Não diga o que não sabe, ou pagará muito caro depois - disse Abel.
Lyah já estava chorando, mesmo que discretamente:
- E... Ele tem razão. Eu não tenho o direito... Nenhum direito...
Lyah saiu às pressas e abatida da sala de música. Allan ia atrás dela, mas foi impedido por Abel:
- Deixe-a. Eu mesmo falarei com ela. Também tenho um pedido a lhe fazer: não a chame para eventos fora da propriedade, Lyah não está autorizada a sair deste castelo. Quanto a você, - dizia Abel agora dirigindo-se a Logan que já se levantava lentamente - da próxima vez que falar alguma merda eu irei costurar a sua boca com arame. - disse por fim, saindo da sala em seguida.
- Por que ele defende tanto aquela bruxa?
- Ele deve ter seus motivos Logan. E você exagerou, de fato não deve falar o que não sabe.
- Mas esse é o problema Allan! Eu não sei de nada, nada sobre ela! Abel simplesmente a trouxe pra cá três anos antes de contratar a sua irmã... E disse que ela iria morar com a gente. E eu queria saber por que!
- Eu não sei Logan, mas tudo tem o seu tempo certo para acontecer. Abel deve ter tido o seu motivo. E aqui ninguém se desentende com ela, só você que tem que ser sempre do-contra.
- Você não entende!
- A única coisa que eu entendo é que você não passa de uma criança mimada. Você devia crescer um pouco.
Allan também saiu da sala, deixando Logan sozinho.
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"Um caminho de sangue foi traçado...
O que foi que eu fiz?
Por que me faz vestir a coroa de espinhos?
Eu já não sinto mais dor, eu já não sinto mais nada...
Então por que me sufoca?"



Lyah estava dessa vez literalmente chorando. Mas silenciosamente, não fazia escândalo ao chorar.
Pouco instante depois se pôs a enxugar as lágrimas, pois alguém batia na porta: Era Abel, que logo depois já entrava no quarto e aproximava-se lentamente de Lyah.
Abel era incrivelmente bonito. Seu olhar era vivo e intenso... Algo que se aprofundava ainda mais com o místico realce do lilás, a cor de seus olhos. Seu ar também era de alguém superior e influente. Ele era divinamente sedutor. Seus cabelos eram negros e lisos, com um corte que dava uma leve ondulação nas pontas, o que o deixava moderno. Era alto, de bom porte, e vestia-se de modo elegante e neoclássico (sobre-tudo, camisas, e outras roupas de cores neutras, muito preferencialmente o preto). Sem sombras de dúvidas, Abel representava a superioridade e a perfeição em pessoa.
Ele chegou bem perto de Lyah, que estava sentada na cama, e manteve os olhos fixos e uma expressão calma. Moveu lentamente seu braço na direção da menina, e depois a sua mão que, logo em seguida, tocou suavemente sua face... Caçando uma singela lágrima que ainda escorria de seus olhos.
- Você está bem?
- Sim, eu estou...
- Você não devia mentir para mim Srta. Lyahsvie - disse Abel sentando-se na cama, e ficando de frente pra Lyah... Ele direcionava-lhe um olhar que transmitia segurança.
- Mas... Eu não estou mentindo.
- Lyah... Quando eu lhe trouxe aqui foi para que não sofresse mais. Foi para que nunca mais precisasse chorar. Até então eu tenho me esforçado ao máximo pra isso.
- Eu sei Abel... Me desculpe.
- Não me peça desculpas. De fato eu a vejo sorrir todos os dias. Você faz brincadeiras e levanta o astral de todos como ninguém, mas... Não há sequer uma noite que você deixe de chorar, e tem dias que você passa o tempo todo sem sorrir e se esconde em algum lugar para ficar sozinha...
Lyah não suportou e voltou a chorar.
- Por que Lyah? Me diz o que eu preciso fazer... Apenas me diga que eu...
- Você não precisa fazer nada Abel. Você já fez muito por mim... Parar de chorar cabe a mim mesma fazer. Eu prometo que vou me esforçar.
- Então comece agora. Não sabe o estado que fico ao vê-la desse jeito.
Lyah pôs-se a enxugar as lágrimas, e instante depois Abel a abraçou bem forte, e Lyah correspondeu... Acalmando-se lentamente.



"Quando o meu anjo-da-guarda chegar e me tomar em seus braços fortemente,
Então eu estarei livre...
Ele me dará asas e me permitirá voar.
Enxugará as minhas lágrimas e me dirá que ainda há esperança.
Mas nesse momento eu não desejarei mais nada.
Apenas lhe pedirei que me abrace,
E não me solte...
E não me deixe sozinha..."



Dia seguinte. Lyah já estava na cozinha onde costumam tomar o café da manhã. É grande, bem arejada e com uma delicada decoração. Lyah costuma ser a primeira a acordar, com excessão dos empregados, e ela mesma fazia questão de preparar o café.
- Bom dia Lyah... – dizia Alllan entrando na cozinha.
- Bom dia Allan!
Em seguida, Lyah ficou a observá-lo por alguns segundos. Percebendo isso, Allan perguntou:
- Por que está me olhando com essa cara?
Lyah sorriu aleatoriamente e respondeu:
- 18 anos, não?
- Oh, céus!! E eu ainda tinha esperança que tivessem esquecido.
- E como eu iria esquecer do seu aniversário? - disse Lyah sorrindo - E a sua irmã está super empolgada, elaborando uma festa há meses!
- É eu sei... Aquela lá não perde sequer uma oportunidade de fazer uma festa.
- Você não está contente?
- I... Imagine! Claro que estou! Agora eu finalmente sou maior de idade!
- Bom, então sente-se ai! Em homenagem ao aniversariante eu preparei o melhor café-da-manhã do mundo! Tem tudo o que você gosta Allan.
Lyah foi colocando as coisas na mesa enquanto Allan se surpreendia:
- Nossa Lyah!! Você fez tudo isso?
- Exato. Croassaits de chocolate, bolinhos prima-vera, panquecas com várias opções de recheio, torta de morango, panquecas americanas, torta de banana, croassaits de queijo, pães-de-queijo, vitamina especial, Milk-shake, sucos e outras coisinhas a mais...
- São os meus preferidos! Eu... Nem sei o que dizer Lyah.
- Não diga nada, apenas coma! Espero que goste.
- Hahaha!! Lyah, não diga besteira. Você deve ser a melhor cozinheira do mundo!
Logan entrou nesse mesmo instante na cozinha. Estava usando óculos escuros. Passou avoado e foi direto para a geladeira, da qual retirou um energético e começou a beber. Depois de uns goles, finalmente falou:
- E ai, como se sente com 18 anos?
- Sinto que vou precisar ser mais responsável.
- Sei bem... Também senti isso.
- É mesmo, às vezes me esqueço que você é mais velho que eu.
- Dá um tempo...
- Logan... - dizia Lyah - Os seus olhos...
- O que foi? Tá preocupada comigo?
- Bom, é... Sim. Eu estou preocupada.
- Como você mente! Aposto que está se matando de rir por dentro!
- Jamais! Eu estou falando sério!
- Não se faça de boazinha!
- Chega Logan! Nada de brigas por hoje, ok? – interviu Allan.
Logan deu uma breve pausa sem deixar de encarar Lyah, e depois disse, após tomar outro gole de energético:
- Está bem. Mas só porque hoje é seu aniversário. É uma pena que essa bruxa já o tenha enfeitiçado.
Lyah abaixou a cabeça e não revidou. Logan saiu da cozinha pela porta que dava no pátio lateral do castelo.
- Não liga pra ele não Lyah. Um dia ele ainda vai se arrepender por tudo que faz e que diz. - disse Allan consolando Lyah.
A quarta pessoa a entrar na cozinha não podia ser ninguém menos que Helena, irmã de Allan e governanta do castelo.
Helena exerce essa função há pouco tempo, antes disso esse cargo fora exclusivo de sua falecida irmã mais velha Nathalie, que tinha pelo menos o reconhecimento de Abelard. Nathalie morreu jovem, como uma governanta extremamente fiel e eficiente, além de uma grande admiradora de Abel, por mais frio e limitado que ele fosse, e ainda o é. Assim, por respeito aos anos de trabalho, Abel transferiu o cargo para sua querida porém problemática irmã. Inclusive também permitiu que Allan, o irmão mais novo, e Marie, filha de Nathalie agora aos "cuidados" de Helena, vivessem no castelo.
Helena não é tão eficiente quanto à irmã, mas possui perspicácia e ousadia, o que a faz digna de ser a governanta do ilustríssimo Castelo Eizendrith.
O grande problema é que Helena nutri uma paixão doentia por Abel, na verdade essa paixão existia desde a época em que sua irmã ainda trabalhava para ele. Além disso, Helena possui uma personalidade difícil. É muito ambiciosa, manipuladora, vingativa, detesta perder e é capaz de fazer qualquer coisa para alcançar um objetivo.
Agora se formos levantar a curiosa questão do porquê de Abel manter alguém assim com um cargo tão importante em sua residência, deve ser pelo simples fato de Abel ser – ou pelo menos já ter sido – pior do que ela. Ele é muito calculista e incapaz de dar um único passo sem pensar. A resposta para a dúvida é que Abel, além de tudo, gosta de manter esse tipo de gente por perto. É como uma forma que ele encontrou de testar a influência que ele exerce até mesmo sobre esse protótipo de indivíduo. E realmente, Helena seria totalmente incapaz de fazer algo de errado que passasse despercebido por Abel. Resumidamente, ela é apenas mais uma peça submissa de seu império.
- Allan!! Meu irmão querido, feliz aniversário! O seu presente eu te entrego depois, na hora da festa. Eu convidei uma legião de pessoas, todos os seus amigos, amigos do Logan e da Lyah também. Tem meninas lindas Allan! Por que você não aproveita e arranja uma namorada?
- (Ela está excitada) Ah, é mesmo né? Eu prometo que vou tentar...
- Também contratei 10 DJs... Espero que seja o suficiente... Eu também contratei aqueles animadores de festa! Ainda tenho que concluir alguns detalhes do Buffet e da decoração. Será a festa do ano!!
- (Ela está muito excitada) Boa sorte maninha! Estou contando com você hein?
Enquanto Helena falava com Allan, Marie se aproximava lentamente de Lyah. Ela tinha cabelos bem loiros e olhos grandes e azuis. A menina cutucou com o dedo a perna de Lyah, que até então decidira não participar da conversa entre os dois irmãos, e tentou chamar sua atenção:
- Lyah... Lyah...
Lyah olhou para baixo, sorriu, abaixou- se e respondeu, entusiasmada com o encanto de Marie:
- Bom dia princesa! Você está linda como sempre! Me diz mocinha, o que você quer comer hoje? Pode me dizer que eu faço!
- Eu... Eu quelo batata flita...
- Batata frita? Mas a essa hora da manhã Marie? Não... Isso vai te fazer mal. Deixe que eu vou preparar algo especialmente pra você. Espere só um pouquinho, ai mais tarde eu faço batata frita, tudo bem?
Marie acenou com a cabeça positivamente.
- Isso... Que gracinha! E já é tão educadinha...
- Ah, Lyah querida - falava Helena - Você poderia ficar com a Marie por algumas horas? É que eu estou muito atarefada e não sei se vou poder ficar...
- Pode deixar Srta. Helena. (já é de costume... eu devo ser a pessoa que mais dá atenção pra Marie por aqui)
- Obrigada querida, você é um anjo!
Na grande realidade por traz do pano, Helena odiava Lyah. E nem é preciso ser muito inteligente para saber o motivo: ciúmes. Lyah devia ser entre todas as criaturas do mundo, a única que recebia a atenção de Abel. Uma atenção considerada mais do que especial. Lyah era a única pessoa com quem Abel conseguia manter grandes vínculos. Ele a conhecia profundamente, e ela também o conhecia e o compreendia como literalmente ninguém fora capaz, não por falta de tentativa, mas sim por impedimento do próprio Abel.
Ambos possuem uma relação íntima e uma proximidade que é mais do que incompreendida por olhares terceiros. E Helena não fica nem um pouco de fora desses últimos mencionados.





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